O Recomeço, Capítulo 15

Por que, mesmo depois de cinco anos, eu ainda pensava na Cris? Cinco míseros anos sem notícia alguma dela, somente agora me dei conta que ela marcou minha vida. Se bem me lembro, havia matado Vitória para proteger minha relação, mas causou exatamente o oposto, nos afastando e tornando tudo complicado.
Aquele casamento desgastado, Veneranda tão velha que cada vez que dormia pensavam se seria sua hora de partir. O partido da minha mãe havia ganhado as eleições ano passado, então havia acabado as buscas sobre os podres da família. O Jack seria o único que me deixaria saudades.
- Aonde vamos mamãe?
- Conhecer o mar.
Gritaram felizes, correndo pela casa.
Com as malas prontas, Deniel em uma suposta viagem à trabalho, Jack com sua vida rotineira, eu precisava sair logo sem que ninguém visse, mas isso era impossível naquela cidadela, todos tão fofoqueiros. Sai de casa carregando as malas, Amanda e Anabel de mãos dadas no meu lado.
- Comportem-se meninas, e se perguntarem algo, não digam nada.
Acenaram que sim. Que ótimas filhas eu tenho, nem acredito que herdaram a genética daquele idiota.
- Três passagens
- Para onde?
- Capital do país de Ihleburg.
- Esta é a Alemanha.
- Pois é.

Enfim partimos.

O Recomeço, Capítulo 14

Depois daquele dia que conversei com Jack, o irmão da Vi nunca mais me incomodou, acho que Jack deu um bom susto nele. Foi a partir daí que comecei a confiar no meu chefe, queria ter o conhecido desta forma mais cedo. Claro que ele continuou exigente como sempre no bar.
Como o irmão da Vitória havia me deixado em paz, voltei a sair com Deniel, a ponto de nos casarmos. Foi uma reunião simples e eu odiei (por dentro), enquanto todos daquela cidadela gostaram. Eu realmente sabia que seria infeliz com aquela vida que havia escolhido, mas eram apenas as consequências dos meus atos irresponsáveis.
Os primeiros meses de casamento foram agradáveis, Deniel começou a chegar tarde em casa só depois do 9° mês, que foi na mesma época que começaram as traições. Quando completamos um ano de casamento, decidi fazer faculdade à distância, para ter tempo de ser "a boa esposa".
Quatro anos depois estava formada em administração e com duas filhas (Amanda e Anabel, de 2 aninhos). Todas as noites antes de dormir, ficava pensando em como estava minha vida, tudo tão diferente do que eu queria, saudades da Cris, do Brasil, de tudo. Aquela Ihleburg me fazia cada vez sentir mais presa e passiva diante da vida, sem falar que Deniel era um péssimo exemplo de pai, as meninas choravam no meu colo de saudades dele, enquanto eu tinha que cobrir as falhas dele que só me matavam por dentro, mentiras por cima de mentiras.
Minha mãe nem fez questão de vir a Ihleburg conhecer as netas, o que me causou extremo ódio e revolta a ponto de não nos falarmos mais desde o nascimento das gêmeas, afinal eu não precisava mais do seu dinheiro, e não lhe dependia de nada.
Acho que minha mente mudou muito com a vinda das meninas.

O Recomeço, Capítulo 13

"Quanta coisa em minha cabeça! Quanta coisa para cuidar! Jack, Veneranda, Deniel, irmão da Vi e agora minha mãe! Assim vou ficar louca"
Organizei por partes, Veneranda saiu fora da lista, na verdade eu nem lembrava mais que ela existia, só a via na hora do café da manhã. Deniel... bom ele não prestava, e aquela relação estava horrível mesmo, fora da lista também. O Jack vai ser fácil, e resolvendo o Jack eu resolvo o problema da minha mãe, tudo certo. Como eu queria o irmão da Vi fora da lista, me sinto inútil.

Na tarde seguinte falei com Jack;
- Como conseguiu falar com minha mãe?
- Tenho meus contatos
- Só que... eu não sei explicar, ela não é minha mãe.
- Claro que não, ela é mãe da Débora, e não de você Alessia
Gelei e fiquei sem palavras - Pelo jeito todos sabem de mim, sou mesmo péssima.
- Claro que não! - Ele pausou e perguntou - Quem mais sabe de você?
- Um rapaz aí...
Então contei a história para Jack, ele já sabia da minha vida antiga, mas continuou guardando segredo sobre como descobriu.

O Recomeço, Capítulo 12

Cheguei em casa o mais rápido que pude, me sentia sozinha e desprotegida, não tinha segurança em lugar algum, o mundo começava a me assustar. Todas as pessoas queriam algo de mim, sempre benefícios próprios, e passei a lembrar da Cristina, a única pessoa que nunca cobrou nada, sempre deu sem esperar em troca.
"Que saudades dela, porque joguei tudo fora? Se eu conseguisse voltar no tempo... agora me sujeito a um homem que não presta e ainda estou sendo chatageada por um pilantra! Eu mereço"

- Se não me contar o que está acontecendo, vou falar com sua mãe
- Para Jack, não sou criança, e eu moro com meu tio, você sabe.
- Estou falando sério, vou falar com sua mãe que você está estranha
Comecei a rir, como meu chefe falaria com minha mãe se ninguém naquela cidade sabia sobre a existência dela? Nem me preocupei.

No outro dia, antes de ir trabalhar, Joshua me acorda dizendo haver uma ligação para mim. "Deve ser o irmão da Vi"
- Alô? - Disse estupidamente
- O que está acontecendo com você? Recebi uma ligação anônima dizendo que está diferente e não segue mais as regras. Que isso, virou uma marginal agora?
- Que? O que? Nãaao! - "Minha mãe, que surpresa agradável" pensei irônicamente
- Quero saber como entraram em contato comigo e quem é essa pessoa. Você me disse que era boa, lembra? Só que pelo o que me mostra você não presta pra nada, nem para fingir ser outra pessoa.
- Acho que sei quem foi. Vou cuidar disso.
- Espero que cuide mesmo, porque se não cuidar eu cuido, e te deixo morrer sem ninguém nessa cidade. Você sabe que não estou brincando! - Respondeu ela gritando, e logo desligou o telefone.

O Recomeço, Capítulo 11

Passado uma semana e meu desempenho no trabalho estava caindo, Jack perguntou o que havia de errado, eu dizia que nada e ele insistia em saber, sempre com aquela histórinha que me conhecia melhor do que eu imaginava.
Volta e meia o irmão da Vitória aparecia no bar e ficava me olhando, as vezes deixava bilhetes no guardanapo dizendo que queria me encontrar. Eu fingia que não via e ele começou a perder a paciência, até que quando estava saido do trabalho, de noite, me pegou de surpresa tampando minha boca: - Se não for por bem, vai ser por mal.
"É agora, vou morrer!"
Ele me levou até a pensão onde estava hospedado, não sei porque, mas fingi que estava tudo bem e ninguém desconfiou de nada.
- Porque casar comigo? Me mate logo. - Falei em tom alto
- Você vai ganhar uma ótima herança, acha que eu não sei?
- Todos sabem da fortuna, e devia saber também que minha mãe me odeia o suficiente a ponto de deixar tudo para meu sobrinho.
- Isso é mentira.
- Então não procurou direito nos documentos... - Respondi com ar de desprezo.
Com muita raiva ele ficou em pé na minha frente, me olhando sentada na cama.
- Preciso ir para casa, meu tio vai desconfiar do atraso.
- Nossa conversa ainda não acabou. - Disse ele com ar de vingança.

O Recomeço, Capítulo 10

- Não posso ser descoberta, vai arruinar todos os meus planos! Estou quase casando com aquele dentista. - Disse para minha mãe, em meio a uma ligação
- Calma, ligue para esse homem e pergunte o que ele quer, tente negociar, se não der certo deixe comigo. Aposto que é um badeco do político Hernando. - Respondeu irritada e desligou em minha cara.

Liguei para o número que ele havia me passado - Alô?
- Sabia que me ligaria
- Olha, não sei do que você está falando
- Quer mesmo continuar com esse joguinho?
Não respondi nada, na verdade nem sabia o que falar
Ele prosseguiu: - Vou direto ao ponto, quero vingança.
- Tudo bem, quer que eu mate quem?
- Você já matou, eu poderia lhe matar, mas você não me serviria de nada, por isso me mudei para esta cidade
- Ah que bom... quem eu matei?
- Você vai casar comigo e eu vou fazer da sua vida um inferno, além de pegar toda sua herança
- Nunca!
- Ou... eu digo para todos quem você é de verdade, e vão acreditar em mim, pois Vitória era minha irmã e tenho provas de que foi você.
Desliguei o telefone assustada.


Participação de Emilly T.

O Recomeço, Capítulo 9

Mais quatro meses se passaram e eu estava namorando com Deniel, claro que sabia das traições, mas nunca reclamei, queria mesmo casar e construir uma vida, um estatus naquela cidade, ser reconhecida além de 'Alessia, a Bartender'
Quando eu achava que estava tudo perfeito, um rapaz me para na rua:
- Débora?! - Exclamou ele assustado
- Quê? - Respondi surpresa, passaram mil pensamentos na mesma hora, reformulei a frase - Quem?
- Você! Débora! Eu te conheço
- Não sei do que você está falando - Respondi irritada
- Sabe sim, não quero estragar seu disfarce, me ligue para conversarmos.

"Não acredito! Como me descobriram? Depois de quase oito meses nessa cidade, achei que estava tudo bem! Não acredito mesmo!"

O Recomeço, Capítulo 8

- Como se chama? - Perguntei enquanto servia uma bebida ao dentista
- Deniel.
- Deniel? É... diferente
- Vim da Inglaterra
- Ah sim! Me chamo Alessia, se isto lhe importa
- Claro que importa - Ele abriu um sorriso com aqueles dentes perfeitos

E foi assim que consegui a atenção dele, com uma simples conversa num bar. Depois de três meses esperando, era bom a evolução do relacionamento ser bem rápida.
Enquanto isso Jack sempre de olho em mim, em tudo que eu fazia e era muito exigente, as vezes eu achava que ele não gostava de mim, mas as vezes me tratava tão bem que nem sei explicar.