O Recomeço, Capítulo 15

Por que, mesmo depois de cinco anos, eu ainda pensava na Cris? Cinco míseros anos sem notícia alguma dela, somente agora me dei conta que ela marcou minha vida. Se bem me lembro, havia matado Vitória para proteger minha relação, mas causou exatamente o oposto, nos afastando e tornando tudo complicado.
Aquele casamento desgastado, Veneranda tão velha que cada vez que dormia pensavam se seria sua hora de partir. O partido da minha mãe havia ganhado as eleições ano passado, então havia acabado as buscas sobre os podres da família. O Jack seria o único que me deixaria saudades.
- Aonde vamos mamãe?
- Conhecer o mar.
Gritaram felizes, correndo pela casa.
Com as malas prontas, Deniel em uma suposta viagem à trabalho, Jack com sua vida rotineira, eu precisava sair logo sem que ninguém visse, mas isso era impossível naquela cidadela, todos tão fofoqueiros. Sai de casa carregando as malas, Amanda e Anabel de mãos dadas no meu lado.
- Comportem-se meninas, e se perguntarem algo, não digam nada.
Acenaram que sim. Que ótimas filhas eu tenho, nem acredito que herdaram a genética daquele idiota.
- Três passagens
- Para onde?
- Capital do país de Ihleburg.
- Esta é a Alemanha.
- Pois é.

Enfim partimos.

O Recomeço, Capítulo 14

Depois daquele dia que conversei com Jack, o irmão da Vi nunca mais me incomodou, acho que Jack deu um bom susto nele. Foi a partir daí que comecei a confiar no meu chefe, queria ter o conhecido desta forma mais cedo. Claro que ele continuou exigente como sempre no bar.
Como o irmão da Vitória havia me deixado em paz, voltei a sair com Deniel, a ponto de nos casarmos. Foi uma reunião simples e eu odiei (por dentro), enquanto todos daquela cidadela gostaram. Eu realmente sabia que seria infeliz com aquela vida que havia escolhido, mas eram apenas as consequências dos meus atos irresponsáveis.
Os primeiros meses de casamento foram agradáveis, Deniel começou a chegar tarde em casa só depois do 9° mês, que foi na mesma época que começaram as traições. Quando completamos um ano de casamento, decidi fazer faculdade à distância, para ter tempo de ser "a boa esposa".
Quatro anos depois estava formada em administração e com duas filhas (Amanda e Anabel, de 2 aninhos). Todas as noites antes de dormir, ficava pensando em como estava minha vida, tudo tão diferente do que eu queria, saudades da Cris, do Brasil, de tudo. Aquela Ihleburg me fazia cada vez sentir mais presa e passiva diante da vida, sem falar que Deniel era um péssimo exemplo de pai, as meninas choravam no meu colo de saudades dele, enquanto eu tinha que cobrir as falhas dele que só me matavam por dentro, mentiras por cima de mentiras.
Minha mãe nem fez questão de vir a Ihleburg conhecer as netas, o que me causou extremo ódio e revolta a ponto de não nos falarmos mais desde o nascimento das gêmeas, afinal eu não precisava mais do seu dinheiro, e não lhe dependia de nada.
Acho que minha mente mudou muito com a vinda das meninas.

O Recomeço, Capítulo 13

"Quanta coisa em minha cabeça! Quanta coisa para cuidar! Jack, Veneranda, Deniel, irmão da Vi e agora minha mãe! Assim vou ficar louca"
Organizei por partes, Veneranda saiu fora da lista, na verdade eu nem lembrava mais que ela existia, só a via na hora do café da manhã. Deniel... bom ele não prestava, e aquela relação estava horrível mesmo, fora da lista também. O Jack vai ser fácil, e resolvendo o Jack eu resolvo o problema da minha mãe, tudo certo. Como eu queria o irmão da Vi fora da lista, me sinto inútil.

Na tarde seguinte falei com Jack;
- Como conseguiu falar com minha mãe?
- Tenho meus contatos
- Só que... eu não sei explicar, ela não é minha mãe.
- Claro que não, ela é mãe da Débora, e não de você Alessia
Gelei e fiquei sem palavras - Pelo jeito todos sabem de mim, sou mesmo péssima.
- Claro que não! - Ele pausou e perguntou - Quem mais sabe de você?
- Um rapaz aí...
Então contei a história para Jack, ele já sabia da minha vida antiga, mas continuou guardando segredo sobre como descobriu.

O Recomeço, Capítulo 12

Cheguei em casa o mais rápido que pude, me sentia sozinha e desprotegida, não tinha segurança em lugar algum, o mundo começava a me assustar. Todas as pessoas queriam algo de mim, sempre benefícios próprios, e passei a lembrar da Cristina, a única pessoa que nunca cobrou nada, sempre deu sem esperar em troca.
"Que saudades dela, porque joguei tudo fora? Se eu conseguisse voltar no tempo... agora me sujeito a um homem que não presta e ainda estou sendo chatageada por um pilantra! Eu mereço"

- Se não me contar o que está acontecendo, vou falar com sua mãe
- Para Jack, não sou criança, e eu moro com meu tio, você sabe.
- Estou falando sério, vou falar com sua mãe que você está estranha
Comecei a rir, como meu chefe falaria com minha mãe se ninguém naquela cidade sabia sobre a existência dela? Nem me preocupei.

No outro dia, antes de ir trabalhar, Joshua me acorda dizendo haver uma ligação para mim. "Deve ser o irmão da Vi"
- Alô? - Disse estupidamente
- O que está acontecendo com você? Recebi uma ligação anônima dizendo que está diferente e não segue mais as regras. Que isso, virou uma marginal agora?
- Que? O que? Nãaao! - "Minha mãe, que surpresa agradável" pensei irônicamente
- Quero saber como entraram em contato comigo e quem é essa pessoa. Você me disse que era boa, lembra? Só que pelo o que me mostra você não presta pra nada, nem para fingir ser outra pessoa.
- Acho que sei quem foi. Vou cuidar disso.
- Espero que cuide mesmo, porque se não cuidar eu cuido, e te deixo morrer sem ninguém nessa cidade. Você sabe que não estou brincando! - Respondeu ela gritando, e logo desligou o telefone.

O Recomeço, Capítulo 11

Passado uma semana e meu desempenho no trabalho estava caindo, Jack perguntou o que havia de errado, eu dizia que nada e ele insistia em saber, sempre com aquela histórinha que me conhecia melhor do que eu imaginava.
Volta e meia o irmão da Vitória aparecia no bar e ficava me olhando, as vezes deixava bilhetes no guardanapo dizendo que queria me encontrar. Eu fingia que não via e ele começou a perder a paciência, até que quando estava saido do trabalho, de noite, me pegou de surpresa tampando minha boca: - Se não for por bem, vai ser por mal.
"É agora, vou morrer!"
Ele me levou até a pensão onde estava hospedado, não sei porque, mas fingi que estava tudo bem e ninguém desconfiou de nada.
- Porque casar comigo? Me mate logo. - Falei em tom alto
- Você vai ganhar uma ótima herança, acha que eu não sei?
- Todos sabem da fortuna, e devia saber também que minha mãe me odeia o suficiente a ponto de deixar tudo para meu sobrinho.
- Isso é mentira.
- Então não procurou direito nos documentos... - Respondi com ar de desprezo.
Com muita raiva ele ficou em pé na minha frente, me olhando sentada na cama.
- Preciso ir para casa, meu tio vai desconfiar do atraso.
- Nossa conversa ainda não acabou. - Disse ele com ar de vingança.

O Recomeço, Capítulo 10

- Não posso ser descoberta, vai arruinar todos os meus planos! Estou quase casando com aquele dentista. - Disse para minha mãe, em meio a uma ligação
- Calma, ligue para esse homem e pergunte o que ele quer, tente negociar, se não der certo deixe comigo. Aposto que é um badeco do político Hernando. - Respondeu irritada e desligou em minha cara.

Liguei para o número que ele havia me passado - Alô?
- Sabia que me ligaria
- Olha, não sei do que você está falando
- Quer mesmo continuar com esse joguinho?
Não respondi nada, na verdade nem sabia o que falar
Ele prosseguiu: - Vou direto ao ponto, quero vingança.
- Tudo bem, quer que eu mate quem?
- Você já matou, eu poderia lhe matar, mas você não me serviria de nada, por isso me mudei para esta cidade
- Ah que bom... quem eu matei?
- Você vai casar comigo e eu vou fazer da sua vida um inferno, além de pegar toda sua herança
- Nunca!
- Ou... eu digo para todos quem você é de verdade, e vão acreditar em mim, pois Vitória era minha irmã e tenho provas de que foi você.
Desliguei o telefone assustada.


Participação de Emilly T.

O Recomeço, Capítulo 9

Mais quatro meses se passaram e eu estava namorando com Deniel, claro que sabia das traições, mas nunca reclamei, queria mesmo casar e construir uma vida, um estatus naquela cidade, ser reconhecida além de 'Alessia, a Bartender'
Quando eu achava que estava tudo perfeito, um rapaz me para na rua:
- Débora?! - Exclamou ele assustado
- Quê? - Respondi surpresa, passaram mil pensamentos na mesma hora, reformulei a frase - Quem?
- Você! Débora! Eu te conheço
- Não sei do que você está falando - Respondi irritada
- Sabe sim, não quero estragar seu disfarce, me ligue para conversarmos.

"Não acredito! Como me descobriram? Depois de quase oito meses nessa cidade, achei que estava tudo bem! Não acredito mesmo!"

O Recomeço, Capítulo 8

- Como se chama? - Perguntei enquanto servia uma bebida ao dentista
- Deniel.
- Deniel? É... diferente
- Vim da Inglaterra
- Ah sim! Me chamo Alessia, se isto lhe importa
- Claro que importa - Ele abriu um sorriso com aqueles dentes perfeitos

E foi assim que consegui a atenção dele, com uma simples conversa num bar. Depois de três meses esperando, era bom a evolução do relacionamento ser bem rápida.
Enquanto isso Jack sempre de olho em mim, em tudo que eu fazia e era muito exigente, as vezes eu achava que ele não gostava de mim, mas as vezes me tratava tão bem que nem sei explicar.

O Recomeço, Capítulo 7

Não deu dois dias e Veneranda tinha uma enfermeira, que as crianças chamavam de "babá da vovó", nem preciso dizer que ela odiava, e odiava ainda mais a mim, só que todos me amavam, eu era dócil com eles, então ela acabava por estar errada sempre.
O suposto dentista passou a frequentar regularmente o bar, principalmente nas sextas à tarde.
Cidade pequena, e todas as mulheres queriam ele, me mantive dando uma de difícil, só que demorou para ele realmente querer algo comigo, ficou quase três meses saindo com uma mulher aqui e outra ali, enquanto eu o esnobava e cada vez mais ele me queria.
Nesses três meses, eu já havia falado com minha mãe duas vezes, até que não foi tão ruim assim. Ela sempre dizia para mim colocar minha vida em ordem, que eu estava dando trabalho para Joshua e essas coisas, só que Joshua me dizia o contrário. Afinal ele ganhava uma boa grana para me aturar naquela casa.
Veneranda continuava com a enfermeira, ela havia se aquietado no canto e parado de me encomodar, então nem segui meu plano em frente (que seria mandá-la para o único asilo da cidade) até porque queria me casar e sumir daquela casa.

Cada dia sentia mais falta de Cris, como pode? Fazia tanto tempo que não via ela e sua presença ainda era viva dentro de mim.

O Recomeço, Capítulo 6

Podia não ser o melhor trabalho do mundo, mas tomava todo o tempo do meu dia, o que me livrava de ir para as lavouras e aturar aquela família desengonçada.
Em um dos dias pouco movimentado, um rapaz começou a me paquerar.
- Jack, quem é este? Acho estar gostando de mim
- Parece ser um bom sujeito, é o novo dentista da cidade
"Vou rir muito para ele" pensei irônicamente

Na casa de Joshua, meu plano estava em alta, as indiretas que eu dava faziam Veneranda ficar cada dia mais preocupada em estar caduca e acabar num asilo. Tanto que Joshua me chamou num canto:
- Desculpa pela minha mãe, ela anda velha, você sabe
- Ah, que isso tio, da é pena de ver ela numa situação dessas, parece que precisa de cuidados especiais. Eu trabalho na cidade e você gasta todo o tempo na lavoura, tadinha, é perigoso ficar sozinha.
Ele fez uma expressão de preocupado.

O Recomeço, Capítulo 5

Enquanto entregava o troco para a moça, um senhor me chamou a atenção, parecia estar acenando para mim. Achei estranho, pedi licensa a Joshua e segui aquele senhor, entramos em um bar, e ele estava do outro lado do balcão, como se fosse o atendente.
- Pois não, estava me chamando?
- Você deve ser Alessia
"É a primeira vez que estou na cidade, como ele sabe meu nome?" - Parece que sabe mais do que deveria, como se chama? - Sorri
- Jack, temos um emprego para você, e mandaram você não recusar. - disse pouco entusiasmado
"Parece ser coisa da minha mãe" - Tudo bem Jack, me fale então
- Vai começar por baixo e nos mostrar o que sabe, e se sair bem, aumenta de cargo.
- Fechado! - respondi na mesma hora
- Fechado o que?
- Eu quis dizer que sim, combinado, negócio fechado. "Esse povo de cidade pequena"

O Recomeço, Capítulo 4


Na mesa, enquanto todos tomavam o café da manhã, Veneranda começou a falar:
- Acham que estou velha?
- Claro que não mamãe - disse Joshua
As crianças começaram a rir e cochichar entre si
- São elas! Essas malditas crianças que estão falando de mim! - Gritou a velha.
- São apenas crianças conversando, acho que você não está bem. - disse eu, tentando passar compreensão.

Depois fui no centro com Joshua vender as frutas que eles plantaram. Estava lá apenas duas semanas, era minha primeira ida ao centro, e mesmo sendo pouco tempo, não aguentava mais ficar naquela casa com aqueles pirralhos, eu precisava arrumar um emprego decente, e isso só conseguiria na cidade.

O Recomeço, Capítulo 3

Comecei a frequentar a mercearia da esquina, e entenda por esquina duas fazendas adiante. Minha locomoção passou a ser uma moto velha entre aquelas ruas de paralelepipedo. A cidade era tão parada que dava até para prestar atenção em detalhes que não se vê na cidade grande.

Diziam que Veneranda era mística, eu não acreditei mesmo, acho que ela era mais uma velha louca que não foi com a minha cara. Ela não gostou de mim, eu sinto isso, sinto sua falsidade através daqueles gestos bondosos. Ou talvez eu esteja delirando e ela seja simplesmente uma boa velinha.
- Como foi seu dia Alessia? - perguntou Veneranda, enquanto se embalava na sacada
- Bom, eu acho - Sorri e sentei ao lado dela
Ficamos observando as árvores por longos 5 minutos, e aquela dúvida cada vez mais me consumia.
- Desculpa se entendi errado, mas você parece não gostar de mim, não é mesmo?
- Ah! Bobeira filinha... - colocou a mão no meu ombro, como se quisesse me convencer de uma mentira
- Ah Veneranda, que meiga você! Não sei como podem dizer que você está ficando caduca - senti meus olhos brilharem de tanta falsidade.
- Estão dizendo isso?
- Você não sabia? Não, eu não lhe disse nada! - levantei-me rapidamente e subi para o quarto.

O Recomeço, Capítulo 2

Então a mais nova defensora da humanidade estava chegando em Ihleburg, não era exatamente o que eu esperava, haviam castelos lindos, mas são antigos de mais para mim, por sorte fui morar nas fazendas agrícolas, na casa de um tio que minha mãe arrumou para mim, Joshua.
Cheguei carregando as malas que minha mãe havia me dado, eu nem sabia o que havia lá dentro. O tio já veio me ajudando a carregar aqueles pesos.
- Obrigada - sorri dócilmente
- Ah, seja bem vinda sobrinha! - ele deu três tapinhas em minhas costas
"Que fingido, mas não tanto quanto eu"

Aquela semana toda foi parada, como a vida que eles levavam, só não tão parada pelo fato de terem duas crianças na casa, filhos de Joshua, e a avó das crianças, Veneranda. Não sei porque ninguém quis me falar da mãe deles, confesso que fiquei curiosa, mas não perguntei às crianças se não poderiam chorar.

O Recomeço, Capítulo 1

- O povo de Ihleburg é muito tradicional, então cabelo vermelho nem pensar
- Que tal um...
- Xi! Não fale, apenas faça. As palavras estragam os nossos atos, sabia?
- Ok queridinha.
Horas depois saí do salão com uma franja longa e lisa no cumprimento dos olhos, e o resto do cabelo desfiado, num tom castanho claro com luzes de um loiro escuro acinzentado.
"Não sei se gostei, mas sei que vou me acostumar, este cabelo combinou com meus olhos"

Comecei a viagem, não podia levar nada comigo a não ser os documentos novos que indicavam-me como Alessia, e sei lá porque, mas significa defensora da humanidade.
Partir daquele país me partia também o coração, era provável que nunca mais fosse ver Cris novamente.

O Recomeço, Introdução e Personagens

O Recomeço é a continuação do antigo Mal-Caráter. Você pode perfeitamente começar a ler apartir daqui, ou se quiser ficar mais por dentro e não cair de para-quedas, fique à vontade para ler o conto Mal-Caráter.
É quando Débora, por falta de opções, decide começar uma nova vida e um lugar diferente.
Acompanhe se ela será ou não capaz de mudar seu mal-caráter.

Bom divertimento.

Personagens:
Alessia: Protagonista do conto e quem narra. É a antiga Débora, agora vivendo como outra pessoa por fora, e ela mesma por dentro. Tudo é contado pelo seu ponto de vista egoísta, egocêntrico e frio.
Joshua: Amigo da mãe de Alessia, recebe para fingir ser tio dela.
Veneranda: Velha mãe de Joshua.
Jack: Dono do bar de Ihleburg.
Vitória: Garota que Débora (Alessia) havia matado.
Cristina: Garota que Débora (Alessia) ama.

Ao decorrer do conto irão surgir outros personagens menores e alguns secretos, que se revelados agora perdem a graça.
As frases entre "parenteses" são os pensamentos de Alessia.

A Autora: Káah Azamba

Muito obrigada à todos que acompanharam pacientemente.
A partir de 11/02 (sexta) começará a postagem do novo conto, que é a continuação do Mal-Caráter, então aproveitem esse tempinho para ficarem por dentro lendo e relendo ^^

Aqui vai uma novidade; nesse segundo conto que será postado, inclui a ajuda de Emilly para elaboração de ideias.

Espero que estejam se divertindo, e não esqueçam de deixar suas críticas, sugestões e idéias também.

Mal-Caráter, Capítulo 23 e Despedida

Minha mãe não se importava com eu ter matado alguém, mas sim em ter sido pega pela justiça, era tão orgulhosa quanto eu, e sentia seu ego ferido ao saber que fui derrubada.
- Se é para mudar de vida, então que seja drásticamente... Quero morar em uma fazenda, na Alemanha.
- Melhor ainda - disse minha mãe, sorrindo vagarosamente
- Foi bom negociar com você

A visita acabou, no dia seguinte minha mãe me ligou;
Eu não queria ficar mais uns meses dormindo na prisão e fazendo trabalho comunitário, então troquei meus advogados pelos que minha mãe havia enviado. Fizeram um acordo, eu ficaria mais seis meses e depois poderia sair.
- Não era bem o que eu queria, mas já ta bom.
- Se você  tivesse me avisando antes, não tinha passado de oito meses aí.
- Ta bom mãe...

Seis meses depois estava eu saindo da cadeia. Confesso que um ano e oito meses me fizeram desacostumar com tudo, sorte que iria morar na tranquilidade da fazenda.
Me sentia sozinha, minha família cheia de julgamentos contra mim, minha mãe interesseira, e meu pai era como eu, mas acho que pior, havia sumido há 5 anos. Estava sem Márcia, Vitória ou Cristina e recomeçaria sozinha, do zero, fingindo ser outra pessoa.
Com tudo o que sofri até aqui, espero ter aprendido algo, e que venha o recomeço.


Despedida
A Fic Mal-Caráter termina por aqui, mas dá continuidade para a Fic Recomeço, espero que tenham se divertido.

Mal-Caráter, Capítulo 22

Minha mãe continuou falando - ...em troca de você sumir deste país, trocar de vida e manter contato mensalmente comigo. - Inclinou-se na cadeira, aproximando do vidro que nos separava - É melhor do que eu pedir que pare de fazer besteiras, até porque sei que isso nunca vai acontecer.
- É uma boa proposta, trocar de vida, mudar de país e ainda lhe aturar somente uma vez ao mês, mas como vou me manter por lá sem um emprego? Por incrível que pareça, aqui na cadeia estou segura.
É claro que eu odiava ficar presa, mas não podia demonstrar isso à minha mãe, e eu sabia que se a expremesse ganharia mais coisas, afinal ela não fazia isso por amor, e sim pela campanha eleitoral dela.
- Não seja boba, o contato mensal servirá para você ganhar o seu salário como boa filha, e como sei que não confia em mim, vou lhe dar um cargo razoável em uma das empresas do Chile.
- Chile? Acha que vou para o Chile?
- É onde posso garantir que você viva bem.
- É onde você garante que a mídia não vai me pegar. Eu sou boa no que faço, posso até continuar vivendo no Brasil sem saberem que sou eu.
- Tão boa que está onde está. No Brasil não.
- Escuta mãe, eu me rendi, me entreguei...
- De idiota que foi. Alemanha está bom para você?
- Não sei alemão
- Você é inteligente... apesar de tudo.

Mal-Caráter, Capítulo 21

 A outra carta me parecia familiar antes mesmo de abrir;
"Não estou com raiva por você ter sumido, com isso já me acostumei, o que não admito é deixar sua mãe saber que foi presa através de uma notícia no jornal da TV.
Achei que fosse me procurar, mas já que não veio, eu vou.
Se prepare para minha visita no dia 14"


Não conseguia acreditar, minha mãe?
Quase três anos sem contato algum e ela resolve aparecer? Minha vida acabou.

Dia 14 lá estava eu, presa, quando chega minha mãe. Apesar de estar na casa dos quarenta, continuava linda e sedutora, sempre de batom vermelho.
Com aquele ar de superior, ela disse;
- Conheço a filha que tenho, infelizmente. Você é um desgosto para sua família, puxou ao seu pai, aquele canalha. E não serve nem para matar alguém e sair ilesa?
Tentei me justificar, mas ela me fitou com os olhos e prosseguiu falando - Mas não foi para isso que vim aqui, quero lhe propor sua liberdade e mais um dinheirinho extra...
"Minha mãe querendo negociar? Quero nem ver"

Mal-Caráter, Capítulo 20

Um mês depois recebo duas cartas; abri uma
"Débora,
Confesso que nem acreditei quando li sua carta, nem sabia se ainda estava viva. Antes presa do que morta, não é mesmo?
Não sei porque, mas não me surpreendi quando vi seu rosto na televisão sendo presa por um assassinato, você sempre foi doidona, era de se esperar.
Agora falando de mim, estou casada e grávida de sete meses, é um garoto.
Conheci meu marido logo após que me mudei, namoramos seis meses e depois noivamos.
Ele é um amor de pessoa e está muito empolgado em ser papai.
Não leve a mau, mas não acho bom você se envolver com minha família, está tudo tão bem agora, e você sempre atrai coisas ruins.
Espero que fique livre logo.
Cuide-se,
Márcia"


Resumindo, perdi a amiga para a droga do amor, pelo menos apareci na televisão, apesar que isso significa que vou ter que mudar o visual.

Mal-Caráter, Capítulo 19

Nem aproveitamos o dia, estávamos brigadas.
Descobri que ela tinha medo e raiva de mim. "Merecia ir presa também, mas eu a amo, fazer o que."
Me entreguei à policia, contei que havia feito Vitória dormir, carregado-a (sozinha) até meu carro e levado seu corpo para o bosque. Duas horas depois havia voltado para a festa (foi o tempo que fiquei conversando sozinha com ela). Tudo se encaixou e ninguém, além de mim, saiu prejudicado.
Peguei seis anos de prisão por ter me entregado e declarado que apenas queria assustá-la, e não fazia idéia que haviam animais selvagens por ali.
Meu advogado conseguiu reduzir para quatro anos, e se tivesse um bom comportamento, poderia sair em um ano e quatro meses, e depois somente dormiria na prisão.

"Depois que eu e Cris completamos um ano de namoro e ela descobriu do homicídio, nossa relação foi de mau a pior.
Poxa Márcia, não sei o que tive na cabeça, mas achei que ela ficaria feliz em saber que a pessoa que ela odiava, jamais iria interferir novamente.
Só que foi o contrário, Cada segundo que se passava Vitória parecia mais presente entre a gente, e as brigas aumentavam.
Quando vim presa, Cris me visitou uma vez, foi triste.
Tudo o que faço aqui é escrever, apanhar e ser assediada, é tão escuro e tem um cheiro horrível, como o inferno eu acho. Pelo menos Vitória parou de me perturbar.
Faltam apenas dois meses e eu posso sair por bom comportamento, mas ainda vou ter que dormir aqui e talvez fazer alguns serviçoes comunitários.
Sabia que jamais vou poder me aposentar? É lei.
Desculpa ter sumido esse tempo todo.
Abraços,
Débora"

Mal-Caráter, Capítulo 18

- Vou me entregar amanhã, finga estar surpresa e vamos aproveitar o dia de hoje.
- Ficou louca?
- Relaxa, não vou colocar ninguém no meio, até reescrevi a história.
- Débora isso é idiotice - disse Cris, já alterada - Os advogados estão fazendo um ótimo trabalho
- Sinto que preciso de punição
- Nenhuma punição apagaria o que você fez, você tem que se manter viva.
- Eu deveria ter pensado nas consequências
- Também acho
Olhei triste para o chão - Você tem raiva de mim pelo o que fiz.
- Um pouco de medo também
- Medo? Você é a Cris, ela a Vitória, tem toda diferença! Não acredito que me compare com essas pessoas que matam por matar.
- Você vive falando que não sabe o motivo! - Gritou Cris
- Cala a Boca Cristiane, e pare de gritar comigo - Falei num tom firme e sai dali.
"Ela tem razão... e agora?"

Mal-Caráter, Capítulo 17

A festa foi ótima, e o amigo da Vi fez amigos por lá e encheu tanto a cara que nem se lembrou dela.
No dia seguinte deu notícia no jornal local que uma pessoa havia sido comida por lobos e ficou irreconhecível; passaram alguns meses e como Vitória havia sumido no mesmo tempo, resolveram ligar os pontos.
Eu e os participantes da festa fomos interrogados diversas vezes, e a principal suspeita era eu.
- Droga, dei muito na cara!
Cris já havia se acostumado com a idéia, acho que só ficou furiosa no começo por eu ter bolado o plano sozinha.
- Se esforce mais, porque se você for presa, eu também vou por ocultar informações.
- Cris meu amorzinho, como eles vão saber que lhe contei? Só se você contar...
- É, tem razão.

Todas as noites eu sonhava com a Vi, as vezes ela estava sorrindo e feliz, as vezes ela estava muito triste e desesperada.
"Nem gosto de imaginar pelo o que ela passou. Nem sei ao certo porque fiz aquilo, mereço mesmo um castigo."

Mal-Caráter, Capítulo 16

Como a maior inocente do mundo disse que não fazia a menor idéia, mas iria resolver tudo em breve.
Saudei Vitória e seu amigo, e o deixei à vontade nas bebidas, ele tinha cara de quem gostava de beber. Disse para a Vi que precisavamos conversar e a chamei para dentro da casa.
Servi uma caipirinha e dei à ela, e começamos a conversar sobre o dia a dia, até que na segunda caipirinha ela perguntou o que era que eu precisava conversar, mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa ela foi no banheiro, aproveitei o momento e coloquei sonífero na bebida dela, quando ela voltou continuou a beber e eu saí de lá, voltei para a festa, ao lado de Cris e cochichei:
- A Vi já foi embora, problema resolvido

Enquanto a festa rolava, dois amigos meus pegaram o corpo da Vi, que estava com tanto sono que não entendia nada, e levaram na caminhonete para longe dali, jogaram no meio de um bosque, e logo após me mandaram a msg: 'Trabalho feito'

Mal-Caráter, Capítulo 15

Márcia havia se mudado tinha uma semana, ela partiu e nem nos despedimos, continuamos brigadas, mas eu não deixava isso ocupar minha mente, estava me focando na festa de um ano com a Cris. Convidei meus parentes, alguns colegas da faculdade e fiz questão de convidar Vitória, ainda queria vingança. A Cris convidou muitos amigos e apenas a irmã dela, o resto da família não gostava nem de lembrar que ela era apaixonada por outra garota, minha família pelo contrário era super liberal, com exessão do meu avô. Claro que a Cris não sabia que eu tinha convidado a Vitória.
A Vi nem imaginava que eu ainda tinha raiva dela, eu a tratava normalmente quando nos esbarravamos pelos corredores, não estudávamos mais na mesma sala, o que foi bem melhor para mim.


O dia da festa havia chegado.
Tudo pronto e perfeito na minha casa, os convidados chegando e tudo o mais. Todos nos saudando e parabenizando.
Estava gostando muito do carinho de todos, mas me sentia um pouco deslocada, pois a maioria eram conhecidos da Cris, pelo menos ela estava feliz.
No começo da festa aparece Vitória com um amigo, nem preciso dizer que a Cris pirou, me puxou para um canto e começou a perguntar o que ela estava fazendo ali.

Mal-Caráter, Capítulo 14

- Ta, mas é só uma viagem néh? Você volta depois? Tipo... férias! - eu disse brincando
- Bem que eu gostaria, mas não, meu pai ganhou um cargo melhor no trabalho, você me entende - respondeu Márcia, um pouco chateada
- Claro que eu não entendo! Sabe o que eu entendo? Que você vai me deixar aqui nessa cidade sozinha! Você sabe, é minha melhor amiga, não pode, repito NÃO PODE me deixar sozinha.
- Primeiro que eu não tenho escolha, segundo que não vou te deixar sozinha, está em ótima companhia com a Cris, e você passou três meses sem mim, você é mais forte do que imagina
- Então pega suas coisas e esses seus consolos fajutos e vai embora mesmo, nem sei porque vim aqui, tem razão, três meses sem você foi moleza! - "se tivesse sido tão fácil como você acha, eu nem teria vindo aqui, idiota"

Saí de lá puta da vida, fui na casa da Cris e chorei no ombro dela. Ela se assustou muito, pois minha mãe adorava comentar que eu era tão fria que não havia chorado nem no enterro do meu irmão. Até que era verdade, mas sei lá, foi o estresse da briga que me deixou um pouco descontrolada, e não a perca da Márcia em si.

Mal-Caráter, Capítulo 13

"Como eu queria poder parar o tempo e pensar com calma... Não quero perder a Cris, e talvez ela esteja certa, está mesmo na hora de dar um passo à frente."
Ela estava me olhando e esperando uma resposta já havia alguns segundos, resolvi agir e disse:
- Claro, por que não néh?
Ela sorriu aliviada e me beijou ali mesmo. Recebemos muitos olhares estranhos, aquilo era um parque, haviam crianças... eu não gostava de agir assim, mas era um momento especial, então tudo bem.

Nosso namoro estava indo tão rápido, e quase nada mudou, a não ser as crises de ciumes tanto dela quanto minha, pois uma pertencia a outra, então eu podia mesmo ter ciumes até de uma pedra que ela ficasse observando muito tempo. Claro que eu não era assim, ou talvez fosse.
Quando percebemos estavamos namorando a quase um ano e era tudo novidade para mim, minha primeira relação super firme e que estava levando a sério. Já havia perdido toda consideração e fama que tinha conquistado entre meus companheiro de festa, a canalha havia mesmo morrido e essas coisas a Cris nunca soube, graças a Deus.
Fazia algum tempo que eu não falava com Márcia, uns três meses mais ou menos. Havia me focado tanto em fazer um ano de namoro que tinha esquecido do resto.
Quando corri atrás de saber dela, ela estava se organizando para viajar com a família.

Mal-Caráter, Capítulo 12

Vitória ainda estava no meu pé, mas eu já estava decidida, se era para me apaixonar, que fosse então pela pessoa certa. Sei lá se essa pessoa seria a Cris, mas com certeza não seria a Vi, e foi aí que comecei a me afastar dela pra valer, o que me dificultou um pouco na faculdade, pois era com ela que fazia as provas em dupla e a maioria dos trabalhos.

- Precisamos conversar - disse Cris, num ar de mistério
- Não tenho boas lembranças dessa frase, fala logo o que você quer
- Só quero conversar
- Tudo bem
Nos encontramos no parque e sentamos no banco que dava de frente ao pôr-do-sol, uma imagem linda e romântica.
- Tantos anos morando aqui e nunca havia vindo neste lugar - disse admirando tudo
Cris tirou uma aliança do bolso do casaco (estava muito frio), colocou entre minhas mãos e perguntou
- O que me diria se eu quisesse aprofundar nossa relação?
"Relação? Que relação? Temos uma amizade colorida, só isso... Ta, estou chocada, admito"
Eram tantos pensamentos em minha cabeça que não consegui dizer nada, apenas a olhei sorrindo e segurei a mão dela e a aliança firmemente.

Mal-Caráter, Capítulo 11

No dia seguinte, com uma enorme ressaca vejo no meu celular uma mensagem. Era da Cris, perguntando por que eu havia sumido.
Quis não esboçar nenhuma reação, mas não fui capaz. Meu coração acelerou e mesmo não querendo fazer nada liguei para ela e marcamos de sair eu, ela e Márcia.
Assim voltamos a nos falar, ela havia brigado de vez com a ex dela por simplesmente não querer voltar a namorar, também fez muitas perguntas de porque eu havia sumido e eu respondia que precisava de um tempo para me organizar. Márcia, que sabia de tudo, apenas ficava ouvindo a conversa.

Como antes, voltamos a nos ver todos os dias depois da faculdade, e quando não tinha compromissos saíamos juntas.
Não tinhamos nenhum relacionamento sério, mesmo assim eu não gostava de ficar com ninguém na frente dela, e ela do mesmo modo, e como eu só saia com ela, acabou que ficava sem ninguém, só com a Cris. No começo foi encômodo, mas depois comecei a achar legal e por último já não me via com outra pessoa além dela, e foi aí que me assustei.
"Me deixei envolver tanto por esta amizade colorida que acabei deixando de controlar a situação, tanto que está fora do meu controle e talvez, eu nem quero pensar nisso, mas talvez eu esteja apaixonada" Sim, sentimentos me assustam e me fazem fazer o oposto do que quero.

Mal-Caráter, Capítulo 10

O bom de estar com a Cris era a liberdade que eu tinha em ser eu mesma. Continuava ficando com a Vi por miseravelmente gostar dela. Cris ficava comigo, e com a ex geralmente quando eu sumia e dava uma de insensível.
Essas minhas atitudes orgulhosas nunca me levaram a lado algum, mas era mais forte que eu, parte do meu mal-caráter.
Cristina só conhecia minha vida a partir de quando comecei a ficar com Vi, foi tudo o que contei para ela. A pesar de achar bom enquanto durou, meus tempos de canalha haviam acabado, e se não falasse sobre isso não seria relembrado e aos poucos deixaria de existir.

Comecei a me importar com Cris, a confiar nela (para contar segredos, não fidelidade) e surpreendentemente... gostar.
"Droga, gostar!" Isso realmente me assustava, gostar é o mesmo que tomar a pessoa para si e tudo o que ela faz começa a afetar você, nesse caso à mim, e ela ainda ficava com a ex dela, resumindo, eu iria sofrer.
Como boa pessoa egoísta que sou, preferi me afastar da Cris, deixei meu coração de lado e segui a lógica.
O coração só havia me ferrado, a lógica não poderia ser pior.
Ficamos duas semanas sem nos falar, senti falta, nós nos viamos todos os dias.
Parei também de ficar com Vitória, havia cansado de ser a última opção dela. Sai com Márcia e revivi os velhos tempos, a canalha.

Mal-Caráter, Capítulo 9

Continuei vendo TV, e as duas foram conversar na cozinha.
Elas riam tanto que fiquei curiosa, tomei um banho e como quem não queria nada, fui lá. Peguei um copo de leite e fiquei enrolando. Elas perceberam e pediram para mim sentar. Cristina estava bem aparentemente. Muito linda e misteriosa. Conversamos até as 19hs e depois fui para casa.

Era triste ter que ir para a faculdade, eu via e conversava com a Vitória, ela me fazia promessas de amor e saiamos. Eu sabia que ela não gostava de mim e era tudo ilusão, porém eu estava fraca de mais para dar um fora nela. A situação não estava boa, me desgastava. O amor e carinho que queria nela tinha que procurar em outras.
Comecei novamente a fumar frenéticamente, pelo menos me acalmava.

Márcia dizia que tinha uma 'química' entre eu e Cristina. Bobeira dela, se bem que uma 'física' eu adoraria que acontecesse, ela era encantadora.
Viramos amigas e começamos a ficar, Márcia se sentia um cupido, porém eu estava magoada de mais, só queria curtir.
Cristina me tratava diferente, me sentia importante perto dela.

Aos poucos fui deixando de sair com outras garotas, até que fiquei só com Vitória e Cristina.

Mal-Caráter, Capítulo 8

 Por insistência da Márcia, fui em uma festinha na casa dela. Conheci muita gente bacana e tinha um rapaz muito charmoso.
- Que se foda! Vou mesmo ficar com ele
- Calma Débora, você está bêbada
- E daí?
- Você vai reclamar e me culpar... - Márcia mau terminou de falar e eu já estava lá, beijando o garoto.

Passei o outro dia chorando, e como a Márcia havia dito, culpando ela.
- Débora pode parar! Você gostou que eu vi.
- Eu sei... é coisa minha. Você não entenderia, adora homens, mas eu preferia que não tivesse acontecido.
- Só que aconteceu, e pronto. Chega de resmungar e vai viver um pouco.
Estava jogada no sofá da Márcia, era 16hs e não havia trocado de roupa nem feito nada de útil, apenas assistindo TV.
*DIt! DIt! DIt!*
- Não tinha um interfone pior? - resmunguei
- É triste como você só sabe reclamar.

Márcia abriu a porta e recebeu uma moça, me apresentou, chamada Cristina.
Ela já havia me contado umas histórias sobre essa Cristina, e parecia que ela não gostava de homens e recém tinha saído de um péssimo relacionamento, quase na mesma situação que eu.

Mal-Caráter, Capítulo 7

- Odeio dizer, mas sabia que ela ia se arrepender
- Mulheres...
- É Márcia, estou na ativa denovo.
- Nem dê moral para a Vi

Teoricamente eu não daria moral, mas na prática é sempre mais difícil e acabei perdoando-a por me trocar. Foi fácil, afinal eu havia traido muito mais, me sentia por cima novamente. Começamos a ficar.

- Não acredito!
- Ela mudou, eu sinto
- Sente? Vai sentir os chifres depois.
- Cala a boca, Márcia!
Eu não queria, mas estava apaixonada por ela. Rolou uns boatos que ela estava ficando com outras além de mim, eu havia me aquietado, cansado daquela disputa de quem traia mais.

Mal-Caráter, Capítulo 6

No dia seguinta vi a Vitória, iria fingir que não sabia de nada, mas ela chegou e disse que precisavamos conversar.
Sim, a filha da mãe terminou comigo. Como eu sempre fingi ser dócil com ela, não queria estragar o disfarce - Se você acha melhor assim... mas eu ainda vou te amar.
"Vou amar droga nenhuma, que ela pegue uma gonorréia dessa professorinha"

Na mesma noite saí para encher a cara. Eu achava que estava bem, que aquilo não me afetaria, mas depois daquilo tudo virei uma bebum, fumante e altamente complexada comigo mesma.
Eu dizia para todos que estava bem enquanto minhas atitudes diziam o contrário.
- Cansei de mulher.
Márcia riu - Você está bêbada.
- Cansei! Vou ser freira, mulher não sabe amar.
- Então muda de time
- Vou ser freira, já disse.

A vida passava inutilmente por mim. Dia após dia, um sufoco infernal. Quando comecei a me recuperar e me achar bonita novamente, Vitória reaparece na minha vida.

Mal-Caráter, Capítulo 5

O tempo foi passando e começamos a namorar. Estava gostando de tudo aquilo, a Vi era bacana, só me irritava as vezes.
De vez em quando algumas garotas que eu saia antigamente me ligavam e claro que eu não perdia a oportunidade.
Não sentia remorso nem pena da Vitória, e a Márcia sabia de tudo e só dizia - Pobre Vi, é tão boazinha para você.
Eu respondia - Vai saber... - Mas tinha a certeza que ela era uma santa.
Aquela relação me fazia bem, eu saia com todos e tinha a Vi para mim. Perfeito.
Completamos dois meses de namoro, eu confiava na Vitória, e jamais desconfiei que ela soubesse de meus rolos, e esse foi meu maior erro.
Márcia viu a Vi beijando uma professora da faculdade e foi logo me contar.
- Que vadia! - Gritei
- É, o que vai fazer agora? Você a traiu também
- É diferente Márcia, todo mundo sabe que eu não presto, era como se ela já estivesse avisada. Agora ela? Com aquela coisinha de santinha! Isso é jogo sujo.
- Calma Débora, termina então e volta à vida antiga.
- Não mesmo, essa desgraçada vai me pagar.

Mal-Caráter, Capítulo 4

Estava pronta para sair com Márcia quando Vitória me ligou:
- Oi Débinha!
- Oi Vi!
Silêncio...
Arrisquei falar algo - Tudo bem? - "tudo bem? de tudo que poderia dizer, falo logo tudo bem? que idiota que sou"
- Uhum, eu queria te convidar para jantar comigo em um restaurante chines.
"Comida chinesa? Éca!" - Claro, eu adoraria!
- Te busco as 21hs
Ah que droga! Agora vou ter que cancelar de sair com a Márcia e ainda trocar de roupa.

O jantar foi horrível, eu queria animação, mas acho que fingi o suficiente para ela pensar que gostei.
Saímos mais duas vezes (todas jantares idiotas) e na terceira vez acabou na minha cama.
"O que a gente faz depois que termina?"
Acordei de manhã  ela ainda estava ali, no meu lado dormindo. Me assustei, tive medo, comecei a me sentir presa, nunca havia ficado tanto tempo com alguém. Liguei para Márcia; ela foi logo dizendo:
- Já partiu o coração da Vi?
- Quê? - falei baixinho para não acordar Vitória e fui para a sala. - Não Márcia, ela ta aqui, dormindo.
- Sério? - ela realmente se assustou - Então parabéns, está fazendo tudo certo.
- É, mas você me conhece, não gosto do certo.
- Tadinha de você, tão assustada, parece uma criança perdida... você vai se acostumar.
- Ta bom...

Mal-Caráter, Capítulo 3

Conquistei amizade de uma colega da faculdade. "Ela é tão inteligente e centrada, com certeza não terá tempo para pensar em traição"
- Oi Vi! - Sentei ao lado dela e sorri, as vezes me sentia idiota por agir tão dócil.
- Debinha! Fez o trabalho?
A minha cara de espanto revelou que não, na verdade eu não sabia de trabalho algum.
Ela disse - É brincadeira! HAHAHA
Dei um sorriso singelo e passei a prestar atenção no professor.
"Que garota idiota! Acha que é legal ficar me enganando? Odeio ser enganada. To aturando tudo isso só para conquistar essa nerd, aff, vontade de desistir e dar o maior gelo nela." Como sempre, meus pensamentos não viram atitude, na verdade geralmente ajo contra eles. Estranho, eu sei.
Ainda estava brigada com Márcia, odiava meu orgulho, sempre me trazia problemas. Doeu, mas deixei-o de lado, liguei para ela assim que acabou a aula.
- Não me faça pedir desculpas, já estou lhe ligando...
- Você está evoluindo, ou isso é um milagre?
- Er...
- Desculpas aceitas, mas antes de me deixar sem carona, pensa na amiga que sou para você.
- Beleza! Estou indo para casa, sairemos mais tarde?
- Claro.

Ela disse aquilo porque na noite que brigamos eu a levaria para casa, mas acabei deixando-a sozinha.

Mal-Caráter, Capítulo 2

 - Por que você sumiu da festa? Tava tão bom ontem.
- Para com os papinhos Márcia, aquilo tava horrível.
Pedi mais um chop ao garçom.
- Vou nem falar nada. Te conheço a muito tempo e sei que você não está bem. Se você não está bem, tudo ao seu redor também não está bem.
"Talvez seja por isso que as coisas são fáceis para mim". Me fingi de burra, como de costume - Como assim?
- Ah sei lá, fica um clima pesado só de você chegar.
- Ah! Disso que você ta falando? Bobeira.
- Bobeira nada - disse ela pegando o chop - Você precisa de companhia.
Eu ia falar, mas ela me interrompeu - Companhia de verdade! Como pode chamar essas vagabundas de companhia?
Me calei, odiava admitir, Márcia estava certa.
Acenei e pedi mais um chop.
- Você bebe tão rápido que nem vejo - Rimos juntas.

Depois nada aconteceu de bom naquela semana, Márcia me apresentou 3 amigas, mas não gostei disso e acabamos brigando.
Cada dia mais eu pensava na idéia de ter alguém ao meu lado, que me pertencesse mais que uma simples noite. Resolvi que iria mudar, sabia que não conseguiria alguém decente com aquelas atitudes, e fingir era comigo mesmo.

Mal-Caráter, Capítulo 1

- Eu sei o que disse, é o meu roteirinho. Gostou? - Olhei para o despertador. - Agora... vá embora, por favor!
A moça de cabelo curto e descendente asiática se levantou com muita raiva - Por quê?
Analisei a cituação e falei calmamente - Não vai chorar ou avançar em mim, para enfim, começarmos tudo novamente?
Ela olhou indignada - Você é louca ou o que? Acha que sou idiota, só pode! - Vestiu-se rapidamente e saiu.
"Pelo menos assim ela foi embora". Sorri e dormi.

Aquele dia inteiro foi chato, tanto que resolvi sair com minha amiga.
- Márcia, tem certeza que essa é a boate mais badalada?
Quase bêbada ela respondeu - É lógico!
Ela é uma ótima amiga, quando não bebe.
- Essa festa está uma droga! - Gritei.
Enquanto me dirigia para a saída uma moça me segurou pelo braço - Concordo com você - Ela sorriu.
"Ela está afim de mim e não estou com paciência para isso hoje, vou ser estúpida mesmo"
Retirei a mão dela de mim - Só por que concorda comigo acha que vou sair daqui feliz? Sei lá qual suas intenções, a minha é ficar longe de você - Saí e a deixei com raiva, como sempre meu dom é deixar raiva por onde passo, já me acostumei.

Mal-Caráter , Introdução e Personagens

O Conto Mal-Caráter além de proporcionar diversão aos leitores, tem como intenção expor de uma forma descontraída e um pouco revoltada, alguns fatos da nossa vida cotidiana. É para relaxar e refletir.
Não teria como definir seu estilo, tem um pouco de tudo no decorrer do conto, mas oque mais predomina é o romance, com certeza. É sim baseado em fatos reais, mas somente baseado, o conto está tão fictício que somente quem conhece minha vida saberia distinguir quando tem traços da realidade.
Débora é uma versão minha, só que com seus defeitos claramente ampliados. Não é nenhum conto de fadas irreal, na verdade alguns podem gostar por se identificarem com algumas partes, enquanto outros não gostem exatamente por isto.
Acima de tudo desejo diversão à todos, e fiquem à vontade para comentarem e darem sugestões.

Personagens
Débora: Protagonista, e quem narra a história. Sua forma de viver e reagir aos atos dos outros muda conforme o tempo, mas o seu caráter continua intacto. Egoísta, egocêntrica e fria.
Márcia: Uma das únicas amigas de Débora, sua conselheira e cumplice, também é quem melhor a conhece.
Vitória: Garota com quem Débora se envolve. A nerd sem vida própria.
Cristina: Não aparece no começo. Ajuda Débora a enfrentar seus medos.

Ao decorrer do conto irão surgir outros personagens menores que não precisam de definição.
As frases entre "parenteses" são os pensamentos de Débora.

Introdução

Antes de mais nada; fique à vontade. Este é um blog para todos se divertirem e emocionarem.
Com o decorrer do tempo as postagens podem se misturar e a história tal se perder no meio do caminho, por isso aconselho usar os marcadores. Cada história terá seu marcador para facilitar as nossas blogvidas.
Todas as histórias, contos e fics contidos aqui são de minha autoria, e sempre que houver a participação de alguém, citarei com maior prazer.
Adoro ler opiniões, críticas e sugestões, receber convites, ganhar presentinhos, fazer amigos e ler as histórias/contos/fics dos outros.
Podem me considerar chata, mas eu levo muito a sério a arte de seguir um blog, então se quiser me seguir para ter um retorno de números seguidores, desista. Só sigo blogs que realmente gosto e me atraem, e fico chateada quando percebo receber uma visita que nem leu o conteúdo do blog e apenas quer atenção para si.
Também acho bacana os leitores que tem coragem de, com sinceras palavras, ir contra o que digo/penso.

Quanto ao resto, pura diversão à todos nós ^^

Abraços,
Káah Azamba